UMA CRÔNICA DE NATAL


O ULTIMO PRESENTE

Todos esperaram com muita ansiedade a chegada do papai Noel naquela cidade, ele mandou avisar que viria e todos elaboraram uma lista previa do que queriam receber e enviaram pelo correio lá para o polo norte, aqueles pedidos aqueceram o coração do papai Noel mais uma vez, mas ele deu uma olhada pro fundo do saco antes de enchê-lo até a borda.

Quando chegou o tão esperado dia as pessoas se aglomeraram ao redor da pracinha da pequena cidade, esperando o treno riscar o céu, era a primeira vez em séculos que o papai Noel dava uma atenção redobrada para aquela cidade, pois sabia como ela estava doente. Em todos os anos anteriores ele passava correndo, jogando os presente, seu grito de ro ro se perdendo entre os telhados, pois a cidade inteira dormia, sonhando acordada, mas dessa vez iria ser diferente ele prometeu a se mesmo e todos na cidade prometeram a esperar, embora eles soubessem que não eram muito bom de promessas, mas a notícia da chegada de tão ilustre visitante, vez o espirito do natal brotar ali com mais intensidade do que em qualquer lugar da terra.

Transformaram a BR da cidade em uma pista de pouso improvisada, toda iluminada nas laterais com luzes a piscar pro velhinho descer, na hora marcada, ou seja hora nenhuma ele apareceu, meia -noite o treno pousou acompanhado pela respiração cansada das renas que respiravam o ar frio da noite e a chegada de um novo dia, os resquícios de neve do veículo natalino logo derreteram e um galo cantou em algum lugar anunciando a chegada de um novo dia, e o papai Noel já sabia pra quem dá daquele presente, avançou pela multidão e tocou nos ouvidos de uma mulher e ela ouviu o galo cantando o sino batendo na pequena igreja local e chorou, um a um os moradores fizeram fila, pois entenderam que o papai Noel não estava de brincadeira, e cada um foi recebendo seu presente, coisas que não iriam se desgastar tão fácil assim e nem precisavam de uma embalagem colorida pra ser entregue.

Um senhor de cara fechada de repente sentiu uma prótese surgir dentro da sua boca, ele nunca tinha tido a menor chance de pagar um tratamento de saúde bucal, e agora ele podia sorrir, teve gente que ganhou um anel de noivado, teve gente casando de novo, uma velha senhora jogou a tristeza fora, o menino viu os pais se darem as mãos depois de muito tempo separados, e o saco do papai Noel nem dava sinais que ficaria vazio logo, algumas vezes ele o abria, outras não, entregava o presente só com o olhar ou com os toques da mão.

Um adolescente saiu correndo na direção da igreja e todos sentiram que ele tinha recebido a fé de presente, ele foi agradecer ao fabricante, até o dia amanhecer. Médicos foram atendidos, policiais foram ouvidos numa ouvidoria natalina  improvisada ali mesmo, com cheiro de sopa quente e café, professores e alunos encenaram a última aula do ano, alguns mendigos lembraram do caminho pra casa outros foram surpreendidos por outras pessoas que de repente descobriram que poderiam se transformarem em caminhos, em um beco com saída pra quem não recebia mais oportunidade na vida ou não se achava digno dela, e essa capacidade também foi um presente preparado com muito carinho durante o ano todo ou durante toda a eternidade se preferir.

Com  gotas de suor escorrendo pela barba branca, finalmente os presentes ali notaram sinais de cansaço no papai Noel e olha que ele ainda tinha uma linda jornada pela frente, quem mandou ele da atenção redobrada pra linha do equador, ele olhou pro saco e finalmente o espaço liberado fez ele c contemplar seu medo e seu alento no fundo do saco, depois de séculos pra quem iria da aquele item dessa vez ou iria continuar ali por mais alguns milênios com ele de certa forma ele tinham o privilégio de desfrutar de qualquer presente a hora que quisesse afinal ele era fabricante e entregador ao mesmo tempo. Já ia saindo, segurando com firmeza as rédeas das renas quando uma criança se aproximou tocando seu braço fazendo ele olhar para baixo, viu uma menina de rostinho sardento e óculos , ele ficou pensando se tinha esquecido de colocar alguém no colo, aquilo seria uma desfeita e tanto, considerando o nível de exigência de uma grande parcela de sua clientela, mas enquanto se perdia em pensamentos foi surpreendido por uma pergunta:

__ Papai Noel por que você não entregou esse presente ai no fundo do saco? Ou ninguém não quis?

 Ele olhou de volta, dividido entre o riso e o choro, compreendendo a sagacidade e a pureza da pergunta gigante feita pela pequena.

__Eu ainda não encontrei alguém digno que o merecesse, ou talvez tenha me apegado demais a ele, não sei o que você acha, será que você pode me ajudar, disse aproximando seu rosto com barca branca emoldurado pela armação do óculos da criança.

__ Se o senhor me dê eu levo ele pro meu pai, ele não pode comparecer a sua visita.

__ será que iria servir pro seu pai, você nem sabe o que é? Como vai saber se vai ser do gosto dele ?

__ acho que qualquer presente que o papai Noel carregue seja valioso pra qualquer pessoa.

Papai Noel achou que aquela menina tentava falar como se fosse m adulto em miniatura, mas acabou cedendo, ela ficou com o presente e ele foi embora.

Na manhã seguinte a menina teve quer ficar em casa cuidando dos irmãos mais novos enquanto a mãe tentava visitar o pai na penitenciaria, ela levava um bolo que logo seria perfurado por um punhal de um carcereiro mas o que valia era a intenção principalmente da filha que já desde muito cedo assumia responsabilidades pra se, foi ela quem de madrugada mostrou pra mãe uma receita de bolo nova, copiada em uma página de um caderno de matéria velho do ano interior.

De volta ao polo norte, os duendes felicitaram o papai Noel para o ter finalmente passado aquele presente adiante, ele agradeceu a todos pelo empenho, esperou que fechassem as portas da fábrica e foi para o seu quarto descansar, um dos duendes que ficou responsável pro varrer o corredor junto com um companheiro perguntou baixinho sem querer ameaçar o descanso merecido do bom velhinho:

__Vem cá como se chama aquele presente que sempre sobra no saco de presentes, que demora pra ser entregue, e que esse ano não voltou pra fabrica?

O outro olhou pra ele com um ar de compreensão, tentando ter paciência com a ingenuidade do outro, enquanto varia sua vassoura pra lã e pra cá.

__ É esperança seu bobo! E continuaram a varrer.

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