O
GATINHO FEIO
O caçador
voltava pra casa, depois de mais uma caçada na serra. Foi quando já perto de
casa, na beira do caminho, ele viu um gatinho, triste, magro, só o coro e os
osso, feio, mas ele tinha certeza que aquela aparência era devido ao abandono,
pobre gatinho, alguém jogou o bichinho no mato pra morrer de fome! Ele ficou
com pena e levou o gato pra casa.
Quando chegou
em casa foi logo baixando decreto.
__ Olha
mulher o que eu achei no caminho! e metendo a mão dentro do cofo de palha que
vinha pendurado no cano da espingarda mostrou a criaturinha.
Daquele dia
em diante ficou acertado que a vida de sofrimento do pobre gato iria ser coisa
do passado, agora ele ia ser bem tratado naquela casa até afinar o sangue! pois
foi encontrado muito magricela.
O homem era
muito ocupado, tinha as linha de roça dele pra cuidar, além da pescaria e as
caçadas que ele realizava pra incrementar a renda e ajudar no sustento da casa,
por isso ficou certo que na ausência dele, a mulher deveria da agua e comida e
prestar atenção no bichim para ele não se perder. Afinal enquanto o primeiro
filho não vinha, aquele gatinho podia muito bem, ser a alegria da casa.
Aquele casal
era muito unido parecia que a lua de mel nunca tinha acabado, os vizinhos
tinham até inveja, eles nunca tinham brigado.
Na presença
do homem o gatinho só servia para alegrar a casa, tudo o que o homem botava pra
ele comer, ele comia, não recusava nada, depois ficava fazendo estripulia pro
dono da casa sorrir.
__ Olha
mulher como ele é esperto!
Mas toda vez
que o homem saia para trabalhar o gatinho se amuava num canto, passava o dia
engurujado e não comia nada, a mulher tentava de todo jeito, tentando imitar o
marido no trato com o animal e nada ele nem olhava para a comida.
Quando o
marido chegava em casa, la estava o gato com cara de abandono, mesmo assim ia
encontrar o dono na porta pra ficar se rosando nas pernas dele, parecia que o
gatinho tava ficando magro de novo.
__ Mulher, tu
não ta botando comida pro gato não?
__ To marido
mas quando eu boto ele não come!
__ Isso é
conversa rapaz! tu deve ta é esquecendo de fazer isso.
O marido foi lá
botou um pouco de comida em uma cuia e agua numa latinha de manteiga e o gato
comeu tudo.
Daquele dia
em diante o marido já começou a olhar pra mulher com a cara ruim, dando razão
pro gato. E aquele casal de tão unido que era passou a brigar, trocando ofensas
e empurrões, tudo começando por causa do gato que so comia quando o homem
estava em casa, fazendo ele pensar que a mulher era descuidada.
Um dia o
homem de cabeça quente saiu de casa, para não fazer besteira com a mulher e foi
caçar, depois de várias horas mata adentro uma arvore chamou sua atenção,
estava carregada de frutas de o chão embaixo era bem limbo, só com alguma
folhas caídas, parecia que aquele trecho da mata era varrido todos os dias em
contraste com o foiço ao redor.
“De qualquer
jeito dá uma boa espera” pensou o homem, olhando a altura da arvore. Voltou em
casa, ignorando a mulher, comeu alguma coisa, com o gato por perto e saiu de
novo, na boca da noite, levando a espingarda, um cofo, facão, lanterna, e uma
rede garimpeira, rodou pela mata até chegar na arvore novamente, iria fazer uma
espera, durante a noite algum animal grande como um catingueiro iria aparecer
para comer as frutas que caiam, ai então era mão na roda, a sua noite tava
ganha.
As horas da
noite foram passando de tantas pra tantas e nada, esperou que cansou e nada,
nenhum bicho apareceu. Começou a ouvir um galo cantar, longe, na direção da
fazenda do Zeca pires, sendo seguido por outros cujo canto foi se perdendo até
onde não se ouve mais. Olhou pro céu e pela posição das três Marias e da
estrela d’alva reparou que já passava dos bofe da meia noite.
Começou a
sentir tanta raiva que já tava pensando em abandonar a espera e descer no meio
da noite e voltar pra casa, ele sabia que para fazer isso tinha de se prevenir,
desamarrar a rede e joga-la feito um bolão lá embaixo, caçador experiente não
desce de uma vez, pois mesmo não aparecendo nenhuma caça na espera, podia muito
bem ter uma onça de tocaia esperando o caçador descer para come-lo, e assim
quando o caçador joga a rede, fazendo volume, o instinto da onça faz ela
atacar, revelando seu esconderijo e podendo ser alvejada pelo caçador.
Pois bom, ele
já ia fazer isso quando ouviu um pisado, depois outro e mais outro, barulho de
gente conversando, “estranho” o que essa gente veio fazer na mata? começou a
sentir medo, os pelos do corpo se arrupiaram, ele ficou quieto, só o bolão
dentro da rede lá em cima escutando o que se passava em baixo.
__ Boa noite!
__ Boa noite!
__ ...
Várias vozes
se cumprimentaram, num ritual quase infinito até que um tomando a palavra,
falou mais alto que todos dando a entender que exercia alguma influência sob os
demais ali reunidos.
__ Agora e a
hora de cada um contar o que anda fazendo.
Alguém
iniciou o relato, pois la na espera o caçador percebeu a mudança de voz.
__ eu ando
atentando o próprio irmão a desejar o corpo da irmã, já to quase conseguindo e
a alma dois vai se perder.
__ Eu ando
atentando o compadre e a comadre, cada um mora em uma fazenda e os dois já
andaram se encontrando escondido, pois a comadre gosta de andar a cavalo, eu já
to quase lá.
__ eu do
atentando a filha do coronel, eu me desmaterializo, entro no sonho dela e o
transformo em pesadelo, faço ela soltar blasfêmias durante o sono e assim ela
vais pecando e em pouco tempo sua alma vai ser minha por completo.
La no alto da
espera o caçador não tinha coragem de olhar para baixo, ficou só ouvindo aquele
desfile de relatos quase sem fim, entre uma façanha e outra que era relatada
ali, ouviam-se aplausos da plateia, alguns sorriam, gritavam palavras de
ordem...
Pouco a pouco
o terror foi crescendo no caçador e ele foi botando os pingo nos “I” para
entender o que se passava lá embaixo, ele tinha de olhar de qualquer jeito,
então por medo ou coragem ele botou a cabeça pra fora da rede. Pra que? hum !
De vez
enquanto a luz da lua iluminava a mata, até ser engolfada pelo próximo
nevoeiro, e assim, nesse pequenos intervalos de luz e sombra, ele viu de
relance quem estava lá embaixo: criaturas grotescas, humanoides, alguns de
baixa estatura, mas a maioria tinha rabos, chifres e asas de morcego, o caçador
só aguentou olhar por alguns instantes, se encolheu de novo na rede e começou a
rezar bem baixinho para as almas santas benditas para elas desterarem aquela
comandita de diabos para que ele não fosse notado, só queria que aquilo
passasse logo para poder voltar pra casa.
Os relatos se
sucederam lá embaixo e ele já tava quase perdendo a concentração nas falas,
tentando ouvir só as orações que ele mesmo gaguejava quando alguém anunciou que
aquela seria a última fala antes do fim da reunião, aquilo despertou novamente
a atenção do caçador que decidiu prestar atenção naquela voz para ouvir o fim
da reunião.
__ Eu ando
atentando um casal, eles eram o mais unido da região, nunca tinham brigado, até
que eu me transformei em um gatinho e fiquei na beira da estrada, o homem vinha
voltando de uma caçada, ficou com pena de mim, me levou pra casa e me deu
comida, só que como ele é muito ocupado e precisa sair para trabalhar todo dia
encarregou a mulher de me dá comida, só que eu não como na frente dela, só
quando ele ta em casa é que eu como tudo, assim pouco a pouco eu fui fazendo
ele desconfiar da mulher, perder a paciência com ela, fazendo ele penar que ela
é descuidada comigo e assim hoje eles já discutem, já andaram aos empurrões,
daqui uns dias ele vai fazer um arte com ela.
A criatura terminou
o relato, marcando assim o fim da reunião extraordinária. Todos se despediram e
foram embora.
O caçador
esperou o dia amanhecer para descer da espera, mas não era mais o medo que o
movia, voltou para casa já sabendo o que ia fazer.
Quando chegou
encontrou a mesma situação, sempre o gato com a aparência de abatido, nem tinha
triscado na comida, a mulher tava sobressaltada com medo de apanhar de pano de
facão do marido que já entrou de porta adentro com a arma na mão, na mesma hora
o gato correu pra se enroscar nas pernas dele, ficando entre ele e a mulher, só
que foi surpreendido pelo caçador que o ergueu pelo pescoço com toda a força do
mundo e o levou para o quintal, colocou a cabeça dele em cima de uma pedra de
amolar e tacou o facão para arrancar a cabeça do bicho fora, não houve sangue
derramado, pois o gato explodiu liberando uma forma vaporosa preta que grunhiu
como se fosse uma rasga-mortaia e desapareceu.
O casal fez
as passes e nunca mais brigaram.
Me arrepiei todinha. Bem que já imaginava qual era a intenção desse gato do capiroti. kkk..
ResponderExcluirMe arrepiei todinha. Bem que já imaginava qual era a intenção desse gato do capiroti. kkk..
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