A GAROTA DA PRAÇA
A
GAROTA DA PRAÇA
O
movimento tinha minguado no interior da praça, a culpa era da crise, uma das
amigas de Pamela, ironizou, dava dando uma de puta politizada, ela continuava
em silêncio , não gostava desses dias de pouco movimento, em que as
circunstancias a empurravam para dentro de sim mesmo num redemoinho de reflexão
e autocensura pela vida que levava, apesar de todas as escovadas antes de
dormir, o amargo da vida não saia da boca, e foi envenenando a alma o tiro de
misericórdia foi a visita do ex-namorado, o beijo na boca por misericórdia
mesma praça onde tinham se conhecido ele tinha arrancando uma flor de petúnia
do canteiro e lhe oferecido tentando ser romântico uma maneira tímida mas mesmo
lhe tinha cativado, mas a vida tinha atropelado seus planos como um trator de
esteira, e uma caneca de cerveja
Foi
o ingresso de entrada para um mundo psicodélico sem fim e embora fosse
multicolorido era mortal, ela vivia rodeada de morte, era uma roleta russa
Ela
sabia que se não saísse desse mundo e "daquela vida" como alguns
clientes lhe diziam depois de terem a usado, tentando mostrar uma caridade ou
misericórdia que no fundo, no fundo ela sabia que era falsa.
__Por
que você só usa vermelho?
__acho
mais sensual. Ela respondeu pro cliente. Detestava clientes entrevistadores,
com ar de repórter, eram curiosos, e nem tinham uma foda interessante, apesar
de pagarem
Bem,
estavam mais por curiosidade e tedio, do que em busca do prazer proibido,
gostava daqueles que chegavam, trepavam, davam as notas e iam embora depois, ou
com cara de satisfeitos
ou
com peso de consciência, mais aquilo não era mais problema dela.
Tinha
outra do mesmo ramo que ela que vivia implicando com ela por causa do melhor
ponto da cidade para pegar clientes, e estava ameaçando cortá-la com caco de
garrafa por isso ela comprou um calibre 22 e colocou na bolsinha que rodava,
qualquer ora aquela bixinha iria rodar também quando ela espocasse a cara dela
num beco escuro, nem que ela fosse parara na casa de custodia. Ou irmão Guido
não importa. Aquela cidade que lhe torcia o nariz durante o dia era a mesma lhe
procurava durante a noite aquela maldita onda de reflexão veio por que o
cliente não se decidia se queria ou não, "idiota, está empancando a
fila".
__pensei
em pagar o drinque pra você
__pague
o que quiser mas vamos sair daqui e começar o programa, se não o cafetão vai
achar que não dou lucro.
O
carro partiu. E ela viu as luzes de natal que cintilavam na cidade proibida,
mas ela não acreditava mais em contos de fadas todos que
Se
aproximavam delas, homens e mulheres só queriam que ela abrisse aa pernas ou
que usasse a língua e nada mais.
Deram
voltas e voltas até aquele corno decidir pra qual motel iriam
__
Pensei que você quisesse ir direto ao ponto.
__Quero
fazer as coisas diferentes dessa vez.
__Não
sente vergonha de mim?
__Nem
um pouco, o que rolou entre a gente foi muito forte
A
praça era o lugar mais público da cidade mesmo assim ela sentia invisível,
descobriu que o mundo que entrou tudo tinha um preço, quanto valia a vida nessa
terra de gigantes?
Tudo
parecia está rotulado com uma cifra: O silencio, o cansaço, na hora de atender
o cliente. Até mesmo o desabafo do cliente que só queria alguém para ele ser
ouvido na solidão da cidade grande precisava ser contabilizado.
Ela
vivia numa prisão a céu aberto. Todo dia enfrentava a rebelião da realidade,
tinha que lutar por espaço, por cada níquel que era excedente na sociedade bem
comportada. A fronteira proibida que ela não conseguia transpor eram os portões
da praça, ou será que sua maior prisão, era interior? será que o cliente
habitual viria hoje? estava gostando de ficar com ele mais do que com os
outros, mas tinha medo de se apaixonar isso era perigoso na sua profissão ela
sabia por experiência própria não podia correr o risco de acreditar no amor,
naquela altura da vida, os melhores amores são aqueles que só duram vinte
quatro horas.
Sozinho
no quarto ele olhou para o próprio braço com o nome dela, tatuado na pele, ele
era um bicho do mato, marcado a ferro e fogo, na alma com o nome de sua dona,
pois ela podia ser a dona de qualquer um, mas não pertencia a ninguém.
Será
que ela estaria na praça hoje? assim como sempre esteve no seu coração? teve
que tirar o retrato dela da moldura, por causa das críticas da família, ninguém
aceitava, ele era um rapaz de família, passou a guardar só a foto na carteira
como um amuleto, benção e maldição. Estava sem ela, mas ela não saia de seu
pensamento, era um paradoxo, uma contradição que pesava uma tonelada em seu
coração.
Encarou
a praça mal iluminada, mas muito povoada, pelas criaturas da noite, Mas o ponto
habitual dela estava vazio, tão vazio
como sua alma, adorava o jeito como ela rodava a bolsinha, o maior pecado dela,
era a maior fraqueza que fazia ele voltar sempre, mas estranhamente ela não
estava lá, rodou, deu umas voltas pela cidade, se a encontrasse, a arrancaria
dos braços de qualquer cliente, mas não encontrou ninguém, voltou pra casa e
ficou olhando as luzes da cidade pela janela com um mão pressentimento sobre
aquela cidade ruim.
Os
demônios que tinha de enfrentar de carne e osso, capazes de arruinar o corpo e
alma de uma garota que nem ela.
Foi
atraída para o prédio em construção, o cheiro do queijo saindo pro lado errado,
a arma falhou e ela caiu. A sociedade puritana que acordou no outro dia leu a
notícia nos jornais e fingiu se importar. Relatório final da investigação:
suicídio.
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