AMOR DE UNIVERSIDADE
Ele nasceu entre artigos e
seminários, resumos e fichamentos. Tinha forma de solidão no início, foi ainda
nessa fase e com essa aparência que prestou vestibular. Metamorfose inesperada
quando descobriu companhia, quando seu olhar descobriu um novo alvo durante as
apresentações do seminário. Notou um traço de personalidade forte que se
apresentava para o mundo em forma de mulher. A mais bonita da cidade.
O curso terminou e o amor nasceu, o
primeiro beijo foi no segundo encontro, a primeira filha já fez dele o pai mais
feliz do mundo. Agora ele tinha motivos para respirar fundo. Quem diria que
aquele amor fosse durar? A bela e a fera, a dama e o vagabundo?
Toda vez que sua mente singrava na
mitologia do passado, ele era apenas um sol autômato que conseguia pedalar até
a universidade, e nos finais de semana procurar a igreja e vender a alma para
Deus. Mas a sua maior busca ainda não tinha terminado, não naquele tempo,
embora ele desce mostras de ser um bom caçador.
Sozinho e perdido voltando pra casa,
encontrou outra solidão que também respirava, e juntos começaram a construir
uma nova armadura, uma que não machucasse por dentro quem a usasse, mais que
servisse para enfrentar o mundo e os moinhos de vento.
Foi a saudade que ligou pra solidão e
pediu pra ela ficar. Foi o olhar que avisou pro coração dele que tinha avistado
a alma gêmea sentada no banco da universidade comendo salgado e tomando
refrigerante antes da aula, desatendo como ele era, teria passado direto.
Uma vida com muitas metamorfoses,
pois a solidão agora tinha asas de amizade e ficou assim até se tornar outra
coisa que provoca incêndios. Outro destino foi sendo costurado nas aulas, uma
tapeçaria, um mosaico, embora o curso não fosse o de artes. Eram fios de
gentilezas, raivas, risos e lagrimas e uma volta pra casa, cada vez menos
solitária. E ninguém teve a ousadia de avisar para os dois que a pedagogia
tinha acabado, afinal essas coisas nunca terminam e sempre a tempo para
aprender uma coisa nova, como um beijo, pois a alma possui seus gabaritos, a
vida produz aulas que nunca quatro paredes vão ser capaz de conter.
A primeira briga, o primeiro perdão
foi o teste que ele precisava passar pra sentir vontade de levar o sonho
adiante. “Outro vestibular” pensou ele. Mas tudo valeu a pena quando o calouro
descobriu a aula do amor escondido. Já estava cansado das outras aulas e dos
trotes que a vida lhe aplicava, finalmente encontrava a toca do coelho para o
mundo dos veteranos. Tristezas, dúvidas sobre o futuro, lagrimas anônimas, elas
seriam banidas do currículo agora.
Tudo mudou. A volta pra casa tinha
agora outra perspectiva, até mesmo na noite que ele chorou, por causa do luto
do pai, foi a lembrança do sorriso dela que fez ele ficar nessa porra.
E agora ele olhava para a família que
criou e se perguntava se ainda era o mesmo, se era digno do tesouro dos filhos,
como cheguei até aqui ?
O respirar inocente das filhas
durante o sono era um aumento de responsabilidade, mas também uma multiplicação
de alegria que ficava escondida entre quatro paredes e uma só alma.
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