Autor: Festus Pragnell
Título original: The Green Man of Graypec
1ª Edição: 1935
Publicado na Colecção Argonauta em 1954 
Capa: Cândido Costa Pinto
Tradução: José da Natividade Gaspar 

Súmula - apresentada no livro nº1 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":
Quando o cientista Charles Spofforth afirmou à Imprensa que inventara um poderoso microscópio, ninguém teve dúvidas em acreditá-lo. Porém, quando ajuntou que, graças a tão extraordinário aparelho, conseguira distinguir mundos no átomo, levantou-se uma onda de incredulidade e celeuma, principalmente provocada pelo cepticismo dos seus colegas do mundo das ciências. Impunha-se, pois, um testemunho insuspeito que demonstrasse aos incrédulos que Spofforth não mentia. Convidou seu irmão Learoy a submeter-se a uma experiência em que ele próprio não só devassaria através do invulgar microscópio os segredos do átomo, mas ainda se submeteria a outra experiência muito mais atrevida: seu irmão trocaria a personalidade com a de um dos muitos estranhos entes que povoavam os minúsculos mundos atómicos.
E a experiência fez-se. E Learoy Spofforth saltou de súbito, não só para um mundo bem diferente daquele em que nascera, como também para o corpo hercúleo de uma espécie de antropóide meio selvagem - um homem verde das terras de Graypec.
Rude era a vida daqueles entes, homens primitivos, habitando em cavernas, alimentando-se de caça e lutando, num país inóspito, contra feras temíveis, de inteligência apuradíssima.
Uma jovem franzina, de cabelos amarelos, caiu, um dia, de estranho avião, em Graypec. As leis da tribo atribuíram-na a Kastrove, o jovem selvagem em cujo corpo Learoy Spofforth se encarnara. Mas Issa, a jovem cativa da cidade de Teth-Shorgo, a custo suportava o companheiro que o destino lhe impusera, e quando o rapaz lhe procurou explicar que não era o primitivo que o seu corpo simiesco aparentava, mas sim um homem de um mundo diferente, ali surgido em resultado de uma experiência extraordinária, Issa passou antes a considerá-lo um espião do povo adverso de Gorlem.
Os homens viviam sob a tirania despótica dos poderosos Larbis, seres estranhos, semelhando hediondos caranguejos, mas dotados de inteligência e conhecimentos científicos, que eles serviam na sua obra ambiciosa, nas guerras com que hostilizavam o povo de Gorlem, o império de uma raça mais perfeita. Tiranizavam os homens das cavernas, forçando-os a servir os seus senhores, adestrando-os para guerras de onde jamais regressavam, e comandavam as periódicas visitas às aldeias primitivas, de onde traziam levas de homens mais válidos e propícios para os combates. Issa e Kastrove foram um dia arrebanhados numa dessas razias e logo entregues a treinadores que os industriavam nos manejos dos carros de guerra, os quais semanas mais tarde partiriam, pelos longos e inóspitos desertos de Kilsona, a combater os guerreiros de Gorlem.
Um dia, na cidade onde o preparavam para a luta, Kastrove, ao favorecer a fuga de um prisioneiro feito ao inimigo, evadiu-se com ele e foi parar à longínqua terra de Gorlem, onde se lhe deparou uma civilização requintada, um povo inteligentíssimo, destemidos guerreiros que lutavam na defesa dos seus e pela causa da justiça, espezinhada pela crueldade dos repugnantes Larbis. Kastrove, dessa maneira, conheceu um novo povo ,uma nova maneira de vida. A experiência temerária de Charles Spofforth fizera dele um homem das cavernas, quase um selvagem, vivendo entre os rudes e desfavorecidos homens verdes de Graypec. A sua companheira Issa, de uma beleza quase europeia, mas de uma fragilidade inconcebível mesmo no mais franzino ente humano, mostrara-lhe a existência de uma casta, tempos atrás bastante civilizada, mas que o vício e a depravação aniquilaram e puseram à mercê dos Larbis.
Kastrove viveu depois os seus mais penosos dias, sob o chicote dos treinadores de Larbis, obrigado a adestrar-se para uma luta que não lhe interessava e para defender uns entes que nada tinham de humano, pois viviam nas águas profundas e só graças aos recursos científicos de que dispunham conseguiam impor-se aos inimigos, ora com guerras dotadas de fulminantes armas, ora atravessando os desertos em poderosas aeronaves que, quando a estratégia o indicava, se tornavam invisíveis em pleno voo.
Finalmente, a fuga de Kastrove levara-o à longínqua e resguardada cidade de Gorlem, povo que combatia heróicamente os Larbis e todos os que ao seu serviço lutavam. Assim, a entrada do fugitivo no campo adverso foi recebida com a desconfiança natural, que a sua procedência justificava. Qual então a sorte do homem das cavernas entre aquele povo novo? Mais atroz ainda do que sofrida sob o jugo Larbi ou no contacto com os primitivos homens-verdes? E Issa, a companheira que por fim o amava, que partilhara, em poder dos Larbis, os mesmos sofrimentos e torturas, perdeu-a ele para sempre quando, fugindo, a abandonou no campo adverso? E o Mundo, de onde a tremenda experiência de seu irmão o expelira, jamais o viu?
Aliás, sendo ele um ponto minúsculo entre os milhões de seres que se agitavam nos mundos do átomo, como poderia Charles Spofforth, com todos os seus recursos de cientista e com o seu poderoso aparelho, divisar o irmão e proceder à operação inversa ou fosse a de transferir-lhe a personalidade de novo para o verdadeiro corpo, o qual ficara na Terra e agora era ocupado pelo verdadeiro e selvático Kastrove, de quem Learoy Spofforth envergava a pele verde e peluda, dispunha dos braços longuíssimos de orangotango e de todos os atributos físicos de um antropóide e de um homem das cavernas?
São os sucessivos problemas que se vão levantando no decorrer da extraordinária obra de antecipação científica, escrita por Festus Pragnell, já um mestre neste género novíssimo de ficção, obra essa que na América constituiu um dos grandes êxitos literários deste ano.
Por tudo isto, é natural que desperte enorme interesse. 
Nota: este livro é uma das minhas memórias mais gratas relativamente à Colecção Argonauta. Devo tê-lo comprado quando tinha para aí uns 15 ou 16 anos e andei a juntar dinheiro para o conseguir. Custou-me na altura (1977-1978) mil escudos num senhor que tinha uma barraquinha de livros em segunda-mão no Beco dos Peixinhos, em Sapadores, onde já tinha comprado vários livros. Foi muito caro, na altura. E foi por esse tempo que eu decidi que um dia havia de ter a Colecção Argonauta toda. E consegui. Demorei foi mais de 40 anos a consegui-lo.

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