ABORTO

O ABORTO
Raimunda decidiu tomar uma garrafada caseira pra expelir um feto indesejável. Na Região onde morava não foi difícil encontrar uma pessoa que não conhecesse as propriedades abortivas de certas plantas ou raspas de cascas(caule) de certas árvores e ela faria qualquer coisa pra continuar sendo moça aos olhos de todos. Não demorou muito pra Raimundinha tornar a ser vista nos forrós da localidade onde morava, as más línguas ainda ainda chegaram a murmurar alguns comentários maldosos sobre a doença repentina de Raimunda, mas ela disfarçava dizendo que estiverar “naqueles dias” e o médico da cidade tinha recomendado repouso. Assim as coisas “esfriaram” e o feto apodecendro na lama do lavatório que ficava no quintal de sua casa.
Era noite de festa na região, ela enfeitava-se diante do espelho e uma onda de desgosto lhe varreu a alma ao contemplar seu ventre ainda com a marca do prato que ela usou pra esconder a gravidez antes dela tomar aquela decisão extrema. Um calafrio percorreu a espinha ao pensar no que tinha feito, mas conseguiu afastar logo a idéia, arrumou-se e saiu para a festa a bordo de um caminhão junto com seus amigos.
Mas por mais que se divertisse, quando estava sozinha, a tristeza sempre vinha, depois vieram os pesadelos, “mamãe, mamãe”..., era o que ouvia neles. O tempo passou e sua própria mãe não sabia o que fazer para curar a filha daquele mal que a assolava por dentro, uma noite Raimunda acordou aos berros com falta de ar:
__ O que foi minha filha ?
__ Nada não mãe, só um pesadelo.
Ela não queria contar mas acordou com falta de ar, uma sensação real de asfixia tinha ultrapassado a barreira entre o mundo dos sonhos e a realidade, causada por um garotinho de olhos demoníacos que a enforcava com o próprio cordão umbilical:
__ Mamãe venha ficar comigo, he, he,...
        No desespero procurou a feitiçaria em um terreiro do interior onde morava, o macubeiro a aconselhou fazer um pacto com o cabra velho, ela vendia sua alma, pois só assim o espírito da criança encarnaria novamente na próxima gravidez que ela tivesse, e assim foi feito.
Logo começou o falatório de novo, Raimunda tinha perdido a vergonha de vez, tendo vários relacionamentos amorosos, até mesmo com homens casados, o que despertava a fúria de suas vizinhas. Mas ninguém imaginava a vergonha e o nojo que sentia por dentro, e isso era o menor dos problemas, pois cada vez mais sentia que tinha caído em uma armadilha do diabo, tava se deitando com vários homens e não pegava bucho, o terror psicológico invadiu o mundo real
***
Até que enfim depois de um bom tempo sua barriga começou a crescer, e sua mãe resolveu levá-la ao médico na cidade de Altos. O pior foi ouvir depois da consulta sua mãe sendo chamada pelo médico para uma conversa particular, não queria ter ouvido aquilo:
__ Sua filha está com gravidez psicológica.
Foi um chute no estômago. Depois disso a idéia do suicídio pareceu atrativa.
Talvez houvesse um jeito de reparar seu erro, “sim um jeito!” falou a voz de dentro de sua cabeça. Abriu a porta da cozinha em plena madrugada e se dirigiu para a poça de lama e micróbrios, “venha meu filho pra dentro de mim, pra mamãe te ter, e começou a ingerir a imundice...
Foi encontrada morta no outro dia com a barriga cheia de lama.
A mãe mudou-se para a casa de outra filha em Altos e alugou a casa.
Meses depois um casal  que ainda não tinha filhos mudou-se para a residência.
Noite: Mamãe, mamãe... A mulher deixou o marido dormindo, abriu a porta da cozinha e preparou-se para engravidar...
FIM
  
  


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