UM VELHO CHICO
Chico fazia era hora que
caminhava a esmo por dentro da mata, sem rumo, tinha se perdido, apesar de ser
caçador, de repente tinha ficado ariado do juízo, começou a suspeitar que tava
era rodando no meio do mato, pois ficou com a sensação de passar por aquele
trecho antes.
Quantas léguas longe de casa? Nem
sabia. Depois de mais algum tempo descobriu um lance de cerca novo partindo a
serra em duas banda, arame farpado novo, brilhando que nem raio aniquilado de
bicicleta.”daqui uns dia ninguém vai conseguir caçar.”pensou.”Tão cercando
tudo”Não sabia porque, logo hoje com tanta disposição pra caçar, o juízo virou
azavesso, o mundo parecia ter virado bunda-canaço, deveria mesmo é ter ido pescar
no Ramildo, mas só de noite, agora tava ali, incandiado pelo calor, dentro da
serra do carretão.Seguiu aberando o lance de cerca, na esperança de encontrar
um trecho da mata que fosse familiar pra retomar o caminho de casa, mas
resolveu se acalmar um pouco, bebeu um gole de água na cabaça, tirou um pacote
de fumo marata de dentro do patuá, fez um cigarro com papel de embrulho e ficou
sentado em uma pedra, fumando e pensando na vida.
Tirou o chapéu de palha da
cabeça, o sol atingiu a careca reluzente, nossa como o tempo passou ! antes sua
cabeleira era de fazer inveja, mas seu corpo tinha sido castigado pelo tempo e pela vida, mas seu sorriso nunca era
atingido. Resolveu caminhar de novo, cruzar novamente o pico da serra, e descer
pelo outro lado, La de cima era possível ver o riacho do cipó serpenteando pela
bacha pra desaguar no Rio Surubim, essa era a maior lição de vida que poderia
ter, um dia seu espírito ia desembocar em algo maior, mas havia perigos sabia,
por isso os cabelos do seu corpo se levantaram como guerreiros vivendo a
ansiedade da batalha que se aproxima, foi quando avistou o boqueirão de serra
La embaixo, escuro de meter dedo no olho por causa da mata fechada, mesmo sendo
dia, lembrou das historias de capelobo que seu pai, caçador mais antigo e
experiente contou, um bicho feio, criatura horrível,que com um único uivo era
capaz de paralisar de medo o caçador mais valentão, ou dilacerar ao meio o
cachorro mais distimido que fosse enfrenta-lo, mas ele sorria do próprio medo,
chegando a falar em voz alta pro protetor espiritual dele aparecer durante a
caçada, seja La quem fosse.
Mas podia aparecer qualquer um,
capelobo, caipora, espíritos de outros caçadores e ate mesmo o cabra vei,
somente esse pensamento o assombrava, temia que uma proposta de riqueza lhe
fosse feita ali naquele lugar deserto e escuro, o suvaco de serra,um ponto sego
entre dois serrote de serra continuava
lhe observando, era o abismo da própria alma, não sabia se ia superar os
desafios: uma galinha preta valente ia surgir pra bicar, depois um bode preto querendo
da marrada, ainda tinha um bezerro preto querendo acertar o alvo em cheio e só
depois um cidadão bem vestido de terno preto e gravata ia surgir na frente
dele,tarde da noite. Dinheiro, muito dinheiro em troca de sua alma, era preciso
descer a serra agora, tava ouvindo maus conselhos. Quando finalmente encontrou
a vareda da descida que o levaria de volta pra casa ficou com medo de olhar pra
trás, sobressaltado tentou assobiar mas não saiu o som, os lábios ficaram
dormentes por causa do medo, no pé da serra lembrou-se que como os mais velhos
falam tudo o que a mata quer é um caçador viciado nela, até que um dia ele se
perda para sempre dentro dela e fique tão brabo, a ponto de esquecer que foi
gente e acabe se transformando em CAPELOBO...
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