O POÇO
O POÇO
Perto da minha antiga casa no bairro carrasco
existe um terreno que na minha infância era apenas um terreno baldio, apesar de
vários moradores terem residido lá, sempre iam embora alegando que o terreno
era assombrado, diziam que uma mulher tinha sido enforcada em uma mangueira do
terreno, um senhor alegou ter visto um ser grotesco com os olhos cheio de fogo
quando foi botar o cabresto em um jumento que ele criava e outras histórias
mais. Meu pai também viveu um terror nesse lugar.
Existe um poço no terreno, na época em que eu
era criança, sempre que o morador mudava-se o poço se deteriorava, a parede
feita de tijolo, com a ação do tempo ou das crianças do bairro sempre caia
dentro e outras sujeiras que os meninos jogavam, sendo assim para água ficar
potável novamente, alguém tinha de descer para remover toda lama e sujeira
contida no fundo, que depois era levada para cima dentro de um balde erguido
pelo sarilho. Então quando chegava o tempo da limpeza, principalmente no verão
quando os outros poços secavam, os vizinhos se reunião para escolher quem ia
descer, e quem ficaria na boca do poço movimentando o sarilho. E sempre era
escolhido um morador para organizar a limpeza, então chegou a vez do meu pai.
Ele escolheu um rapaz chamado Francisco para
descer no poço, só que a gente chamava ele de Chico da veia melha por causa do
nome da mãe dele que era Amelha. Na boca do poço era preciso duas pessoas para
movimentar o sarilho por causa do peso da lama que era tirada do fundo do poço
a fim de desobstruir o minador do lençol freático. Naquele tempo limpeza de
poço e coberta de casa de palha sempre dava uma cachaça. Ainda me lembro do
papai ter reclamado antes da limpeza começar para os envolvidos não beberem
muito....
A limpeza ia
correndo bem, o Chico lá no fundo do poço enchendo uma lata grande com a lama (não
quiseram usar o balde), quando a lata enchia ele dava sinal para puxarem. Só
que os encarregados de conduzirem o sarilho estavam passando todo o tempo da
limpeza conversando em tom de brincadeira com as outras pessoas que tinham se
reunido para prosearem, pois era final de semana e para de vez enquanto
partilharem uma dose.
Em uma das vezes que lata subiu Gabriel, um
dos que estavam puxando a corda do sarilho, achando a lata muito pesada e já
com os braços cansados do serviço, não colocou a lata diretamente no chão, mas
na parede do poço, pois queria tomar ar para depois esvaziar o recipiente. Foi
uma distração de poucos segundos, mas o suficiente para a lata pender para
dentro do poço e depois despencar com grande velocidade por causa do peso da
sujeira.
Meu pai, quando percebeu a queda da lata e
ouviu o barulho dela colidindo com o fundo do poço, entrou em pânico, assim
como as outras pessoas também, ninguém ousava se aproximar da boca do poço e
olhar para o fundo com medo de ver um corpo esmagado por todo aquele peso que
cairá, meu pai já estava se sentindo um assassino, afinal era ele quem tinha
organizado a “coisa toda”. Alguns segundos se passaram, mas pareciam horas, devem
ter sido os segundos mais longos da vida de meu pai, até que ele tomou coragem
e falou sem olhar:__ Chico fala comigo, tu ainda ta vivo?( no meio daquela
confusão toda, a pergunta podia parecer irônica). Mais alguns segundos de
angustia e medo assombraram os presentes, então uma voz ecoou do fundo do
poço,___ Eu to bem! A lata não me atingiu, passou de raspão!
Rapidamente aqueles homens reagiram como que
despertando de um torpor paralisante, jogando uma corda dentro do poço e
erguendo o Chico para fora, já em segurança ele contou que durante a queda da
lata ele estava atento olhando para cima e que a trajetória da mesma foi
mudada, pois antes de chegar ao fundo, um pouco acima dele, a lata se chocou
com a parede do poço, mudando de direção e passando por cima dele em diagonal.
Meu pai que até então não tinha bebido, depois
de ver nosso amigo em segurança, teve de tomar um trago para “sustentar os
nervos”. Convidou Francisco para nossa casa, providenciou água para ele banhar,
deu lanche e pagou pelo serviço.
__ Tu nasceu de novo Chico, nasceu de
novo......
FIM
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